29 janeiro, 2019

Riscos



Alguém me leu.
Gelei por dentro feito alice em chamas
Já nem lembrava o que escrevi
Sou aquilo que fui a partir dali?
Mas a queimar decido deixar
A coçar prefiro à cócega me jogar
Entregar os pontos e as pontas
Deixá-las à terra a molhar
Dissipando a fuga orgânica
Romper garras e soltar gritos
E dizer nada do que já tenha sido escrito.

Das palavras que nem sonham ainda
Em ser escritas posso desenhar.
Mas talvez eu já tenha sido lida.



16 setembro, 2017

Propósito


Propósito há em tudo o que acontece. De bom inclusive. Mas na mesma medida ou ainda mais, me parece que os percalços são quem nos dá um aviso, alerta de que algo está latente e precisa ser depurado.

Reconhecer limites e limitações quando ficamos doentes, quando algo nos incomoda em menor ou maior grau, quando uma proposta incrível que criamos não é aceita ou quando postergamos aquele trabalho para o limite do prazo, tudo diz algo de nós para nós mesmos.

A doença, um pedido do corpo por cuidado, tempo, leveza, aceitação; o incômodo, situações que precisam ser expurgadas, trazidas à luz, ao reconhecimento de si, do que não muda ao movimento de mudar, aceitando um ou outro; a frustração, um caminho alternativo, um preparo necessário, uma reflexão de propósito – assim como quando adiamos algo que parecíamos querer e, paralisados (ou cheios de tarefa), ficamos em volta com pensamentos marcados de futuro do pretérito – aceitando culpas ou encontrando alvos para nos eximir delas.

Aceitação é chave-mestra.

Encontrar o propósito, ainda que sutil, como o tempo de brincar, de parar ao sol, respirar à sombra de uma árvore, sentir o aroma da comida em preparo, de dar atenção a cada um; ainda que gritante, como o de um conflito, uma discussão, um rompimento, perdas... nos faz mais maduros e serenos, não importa se aos 20, 40 ou 80.

Qual o propósito de alimentar rancores, por exemplo?

Como acredito que em tudo há um propósito, a ele posso dar o nome de Deus. Afinal, é Deus, para muitos (ou o propósito de estar vivo), que nos move adiante, para a vida e a aceitação dela por inteiro. É o movimento da evolução.

Conscientes, respiramos em sintonia, sabemos que estamos onde devemos estar, seja para permanecer ou para mudar, que somos parte essencial de um processo de evolução contínuo, que nossos atos, pensamentos e intenções emanam energia, frequências que encontram conexões e se fortalecem.

Qual o propósito de vibrar inveja, por exemplo?

Importante, essencial reconhecer que vibramos e intencionamos mal, por mais que você, sentadinho em sua confortável sensatez, acredite ser tão bom, tão cidadão de bem... Mexa-se, incomode-se com você mesmo. Desequilibre-se. Há muito o que evoluir.

Nosso papel dentro de uma sociedade que não entende seu propósito de transformação, preferindo a segregação, a não aceitação do outro, confusa entre moralismos que dividem, criadora de guetos, pode ser este: o de unir no propósito do amor.

O nosso lugar sob sol é o mesmo de todos os outros. Se estamos próximos, influenciamos e somos influenciados, qual o propósito de alimentar discórdias mesmo?

Que possamos sentir profundamente o que nos aflige, incomoda, paralisa, para então encontrar nosso propósito e jeito de mudar. Não precisa ser radicalmente – que seja uma mudança lenta, desde que consciente e na direção acertada, em consonância com o propósito de sua vida.


15 maio, 2017

RAMOS da mesma ÁRVORE


A capacidade que temos de cooperar um com o outro nos faz, todos, irmãos, mães e pais ao mesmo tempo. Somos um, uma família apenas, grande e complexa. Dependemos dessa rede, das conexões que criamos, das quais viemos e delas somos resultado. Temos escolhas, livre arbítrio, seguimos o fluxo ou criamos nossos próprios padrões, para então com eles rompermos e a novos brotos darmos vida. Somos, porque viemos, da mesma raiz, mas nossos galhos criam suas próprias intersecções. Somos um grande e complexo organismo aos olhos do universo. Adoecemos, morremos, nos tornamos tumores. Também nos transformamos em cura, apoio, alimento para flores eclodirem. Cooperamos e destruímos, e fazemos isso a nós mesmos, enquanto achamos que só aos outros há reflexos. Não somos imunes aos outros, nem a nós mesmos. Dessa conexão depende a qualidade da nossa evolução. Não vamos dizimar nossa espécie abraçados a um cupim besta que criamos como um pet. Deixemos que ele morra de inanição e vire adubo, pra que ramos se fortaleçam e nossos milhares de braços não sequem antes da primavera.

18 abril, 2017

O tempo, o vento, a pipa

Corremos contra o tempo e não a favor dele. Fosse o tempo vento, entenderíamos que em boa parte do caminho o sopro é a nosso favor. Talvez em todo ele. Mas teimamos. A partir do momento em que nos damos conta de que podemos escolher, é contra o vento que caminhamos.
Parece natural tamanha teimosia. Somos seres teimosos por natureza. Seria a evolução da espécie resultado de adaptações teimosas ou sempre harmoniosas? Somos biologicamente teimosos ou teimosamente programados para sermos do contra?
Da infância, acentuando-se na adolescência, permanecendo até a vida adulta, essa teimosia é impulso, fogo cuspido de dragão, queda que faz levantar. E seguimos teimosos, crentes que abafamos, com nosso bafo sem eco. Aos poucos, com o tempo, teimar é como berrar em sauna a vapor. Falta ar, fogem testemunhas, perde-se o sentido.
O que eu queria mesmo com tanto barulho pelo caminho? O que eu esperava com o silêncio cortante pela voz embargada frente ao esforço de tanto caminhar contra o vento?
Bastava uma virada, uma parada para olhar para trás com calma. Não era necessário levantar a voz em meio ao zunido do vento contra, para me fazer ouvir. O esforço em dar um passo após outro. A dificuldade em olhar para o lado, achando que entraria areia nos olhos.
Tombo após tombo, a brisa está lá, sempre esteve. Faltava parar, virar-me para trás, para dentro. Um passo atrás. Deixar de teimar com a vida e seguir meus próprios valores – sem mais, nem menos. Ao invés de me conformar, confirmar-me.
Sem muito planejar, reconhecer o vento a favor, que carrega, direciona, orienta a frequência. O sopro que traz companhias de mesma sintonia, gente que entrelaça as mãos como elos da rabiola de uma pipa, seres que se respeitam e aprendem a se entregar, com leveza.
Apenas o tempo, e cada um tem o seu, vence o poder da teimosia. E a pipa, quanto mais alta, quanto mais elos, quanto mais confiança na base e vento para fazê-la dançar, mais estável, adaptada ao ambiente e liberta ela se torna.

28 março, 2017

Tudo (em) Parte (no) Todo

O tempo vai me mostrando quem sou. Poderia ter sido bem antes – digo assumindo os períodos escorridos nas beiras, desperdiçados presentes hoje residentes na memória, moribundos, mas ainda assim lá. No espelho, os fios brancos contam que o tempo corre, tão depressa, parece ter pressa. Ao menos não escorre. Percorre asfaltos, pedras, lamas, chuva em velocidade urbana. O tempo é dos bróders o mais confiável, ajusta imperfeições do dia, ensina a paciência, esfrega na cara o que somente ele, no alto de sua condição constante, presente, confidente, ousa afirmar: não tem tempo ruim, camarada. Faça chuva, sol, ou a deliciosa combinação dos dois, quem sabe aquele abençoado frio com sol no rosto... Faça o tempo que for, o foco é o agora. Estuda? Estude. Trabalha? Trabalhe. Cuida? Cuide. Dorme? Durma. O que não te agrada? Não perca o tempo com isso. Complicado arriscar ou recomeçar? Sempre é tempo disso.
De tudo aquilo que estamos vivenciando agora – falando, ouvindo, vendo, sentindo, experimentando – em 20 minutos mais da metade terá se perdido da memória. E como é bom nos livramos de instantes que existem apenas para... deixar de existir, que nos servem a um passo além, ou apenas ao próximo passo, em falso ou firme, que se vai numa piscada, num frame sensorial. O que fica, pelo contrário, é armazenado, é história, lembrança feita do que tem relevância. O tempo se encarrega do esquecimento, se for o caso, ou da permanência, fortalecida nas idas e vindas pelos chamamentos da memória. É história. Sou eu. O meu tempo aproveitado. Meu espelho que se abre transparente à minha frente, que me mostra que sou mais do que vejo, sou o que guardo e recebo de bom grado. Sou os meus deslizes, a ajuda recebida, o cachorro na janela, a sala de aula lotada, o ovo espatifado no chão, o desenho escondido, a poesia não escrita, o amor que escorreu. Sou o que lembro, o que fica, o que aprendo e desejo, o que sonho e concebo, o que vibro e receio, o consenso, o bom senso, a mãe que se culpa, sou o filho que se cura com a presença da mão segura. Sou o brilho e o sorriso da filha, a bronca que não segurei, a quina que chutei. Sou todas as músicas da minha playlist e serei mais, das que ainda não conheço bem. Sou a vizinha que ora, o palhaço do semáforo, o doador de sangue. Sou todos e tudo o que me faz ser. Por isso sou tanto quanto todos são: fragmentos de um tempo, tão breves quanto um momento que se perde, ou permanentes, situados em algum lugar onde sempre será possível sermos resgatados ao presente, voltando a ser de tudo parte e todo.

28 fevereiro, 2017

Desconstruir para CONSTRUIR


Sempre bom ter em mente que aquilo que é seguro um dia se desestabiliza. Por exemplo, a autoconfiança. Sem aviso prévio, você estremece. Vai finalmente se render à fragilidade com que convive – física, emocional, ilusória.
Um dia, a beleza não será mais motivo de elogio. O que restará a se admirar? Não, não estou sugerindo o que as pessoas terão a elogiar em você, mas você a você mesmo. Olhará no espelho e... Estará satisfeito com a vida em seu encalço? Desejará ter feito muita coisa diferente ou se sentirá feliz com suas marcas, rugas, quilos a mais, a menos?
A tristeza um dia bate à porta. Ou arromba, depende do que insistir em invadir seu interior. O que fazer com ela? “Senta aqui, vamos te conhecer melhor e então nos despediremos, elegantemente” ou “Entra no freezer um minutinho que um dia volto”.
A decepção também cruza o caminho. E são tantas as vezes que já até acenamos para ela. “Como vai hoje, senhorita? Quer uma carona?”
Outras vezes, solidão viciante, é a senhora quem nos faz companhia. E curte um drink, uns tragos, é um tanto impaciente, ranzinza... Mas no fundo é uma boa companhia. Especialmente quando descobre a vontade de mergulhar em bons livros e de compartilhar o tanto que aprende em seu silêncio. Quanto mais experiente, mais valoriza momentos de troca, presentes de companhia.
Raiva, amadas pessoas sensatas, atropela. Pode vir puxada pela mágoa, por exemplo. Apesar de incontrolavelmente desequilibrante, ao final, depois de um belo e demorado banho, ela serve para encaixar as tantas coisas em seus tantos devidos lugares – e o que não tem espaço segue seu rumo, aliviando o peso sobre os ombros.
Autossuficiência – prima de primeiro grau do orgulho – cai por terra tão fácil quando se depara com o primeiro aperto... Melhor mesmo é reconhecer que aceitar ajuda é tão importante quanto oferecer (e dar de fato, ainda que de olhos semicerrados).
Desconfiança é sujeito fraco, sem predicados, assim como o julgamento, que pressupõe certa covardia atrás do escudo enquanto ataca, com mísseis de alto ou baixo impacto, no matter. Mas quem é que não se rende a um julgamentozinho de outrem, não é mesmo? Ok, já que estamos evoluindo, que seja – desde que o autojulgamento seja exercício diário e permanente, como respirar. Apenas: autocrítica, sim; sentir-se culpado, não – e muito, muito menos vitimizado. Agarrar-se à pedra ao invés de atravessá-la nunca levou ninguém a lugar algum, a não ser que uma enxurrada aconteça e arraste, involuntariamente, você e a pedra para uma aventura bem desconfortável.
O que torna as pessoas interessantes não é a “perfeição”, suas respostas prontas, soluções na ponta da língua para problemas alheios (e os seus próprios, hein...?), sua força inabalável, o poder da razão. Estas se blindam das emoções e se tornam verdadeiramente solitárias em seu engano.
Somos falíveis quando queremos ser generosos com a gente e com os outros. Quando esquecemos a data de aniversário de casamento justamente quando mais queremos agradecer o amor. Quando prendemos no momento de soltar. E soltamos quando devemos segurar.
Falhamos ao não dizer o que pensamos e guardamos, semeando uma continuidade infrutífera. Somos vencidos por comodismos desperdiçando o prazer de uma aventura, que nos faria assumir medos para poder vencê-los. Somos dúvida, somos frágeis. Humanos. Crianças ao reaprender o equivalente a andar, a sinceramente se surpreender, e chorar, e sorrir. E maduros seremos quando entendermos que nos descontruir é o que nos faz jogar peças fora, juntar velhas, abraçar outras, e nos construir novamente, com uma renovada mente.

31 janeiro, 2017

A ÚNICA certeza


Cheiro de café. Taí uma coisa de que sentirei falta, penso, enquanto saboreio um expresso suave, quase amanteigado, e espero o pão esquentar no torrador. Sentirei falta quando aqui eu já não estiver. Parece estranho, mas pensar na morte não me assusta. Tem se tornado corriqueiro, na verdade. Especialmente em momentos de pequenas alegrias. Sinto o aroma tomar conta da cozinha nesse fim de tarde de segunda, quase fevereiro, e fecho os olhos, tentando guardar esse prazer em algum lugar permanente da memória.

Assim faço quando sinto o vento no rosto, o sol depois de uma semana cinzenta, a água da piscina onde nado até ficar cansada, o corpo relaxado ao sair do banho depois de uma aula de taekwondo. Nada premeditado. O pensamento vem. Eu deixo. É como uma brisa, que passa de repente sem pesar, e a congelo no tempo, aqui, buscando tradução.

Tenho, cá pra mim, que vou ser daquelas que duram muito. Talvez por ter uma calma prevalecente, um otimismo persistente, uma sombra com a qual procuro andar junto, olhar de frente, conflitar, perdoar, além de um talento para passar (sem despencar) por adversidades (eu deveria virar palestrante... Não fosse a timidez, seria um ganha-pão). Apesar de canceriana, tenho horror a remoer o passado, o que me livra de somatizações decorrentes. Prefiro a praticidade da ascendência escorpiana decidida a gozar a vida - o que também pode me dar uns anos a mais de trajetória terráquea. Mais determinada que indecisa, apesar de carente de certa “agilidade”, já que o tempo, amores, não é bonzinho e não sabemos “o que” ou “quem” vamos encontrar na próxima esquina... Talvez "ela", a morte, que também pode me surpreender num tropeço qualquer – tão inexplicável e incompreensível já se mostrou em situações diversas, pertinho de mim, em cheio na alma. E é por deixá-la rondar insights, cavidades e margens do meu pensamento que faço de sua certeza um impulso nesse sopro de brevidade que é... a vida.

Penso que a morte é presença constante a cada vez que saio de moto – e me sinto mais segura dos meus atos. Quando consigo me expressar e imagino que uma palavra dita ou escrita possa ter tocado alguém. Quando ponho meus filhos pra dormir e escuto suas respirações profundas – e me encho de gratidão, desejando e orando para que tenham sono tranquilo, uma vida de sonhos realizados. Quando os vejo sendo legais um com o outro e com os outros, deixando transparecer o amor que sentem – e me sinto forte, digna de ser deles mãe, grata (de novo, sempre) por tê-los como missão que engrandece minha existência e me faz querer ser melhor, apenas como pessoa.

Deixo que ela venha visitar meus pensamentos, mas neles não pairam, por exemplo, como ela virá para mim. Não assim. Não se trata de morbidez, mas de tentar trazer para a serenidade sua iminência imprevisível. Uma consciência. Não querer ignorá-la. Saber com ela conviver. Não temo a minha morte, mas a minha ausência aos que ficarem. Porque sei o quanto dói não ter a presença física de quem se ama por perto, o quanto a saudade aperta o peito e passa a ser pele, parte inseparável, poro e, então, cicatriz – troféu de quem teve o privilégio de amar verdadeiramente nessa breve passagem.

A intensidade da vida faz a morte menos temida. Assim como o coração em paz. O amor, não o dinheiro. A presença, não a distância. A palavra, não o silêncio. O sentimento.

*Desde que o perdão e o amor se encontraram, três dias antes de sua partida, numa breve e sincera conversa que me fez feliz como não me lembrava mais, me pergunto se é possível sentir a proximidade da morte. Não sei. Não a sinto. Só penso, mas não desejo. Tenho muito ainda a amar e viver, fazer a vida valer tanto a pena, em cada detalhe e momento. Por você. Para ver grandes os meus pequenos. Por todos aqui, agora. Por mim e tanta gente que se permitiu viver o luto, no seu tempo, até que ele se transformasse em força viva, amor a ser doado, vida a ser cuidada, querida, desejada, afeita a afetos – e impulsionada pela única certeza que temos.

27 janeiro, 2017

Dicotomia DOS TEMPOS



Em tempos de amores líquidos, prazeres virtuais, sorrisos que duram o clique de uma selfie, espiritualidade elevada até que o calo seja apertado, sabedoria encerrada em frases feitas (de autorias duvidosas), em que Pondé se torna pop, (Marco Antonio) Villa amado por senhoras em salões de beleza, Karnal é guru bonitão, em que previsões/catástrofes/perigos iminentes (que nunca acontecem) são disseminados por milhares em mensagens via whatsapp, em que feministas são todas chatas, arte urbana considerada sujeira, Joven Pan suprassumo da boa informação, em que quem não é de direita só pode ser de esquerda (e vice-versa), fronteiras que se erguem, extremismos que encerram diálogos, monólogos terapêuticos em rede social, em que likes ditam surtos de depressão, ritalina é
prescrita a rodo a crianças, professores (e muitos pais) preferem a praticidade ao desafio, em que “toda criança tem algum déficit de atenção hoje em dia”, pais trabalham tanto que não sabem o que sonharam seus filhos na noite passada, em que o passado é usado como “exemplo”, em que professor de matemática dá aula de biologia, em que o salário nunca mais deu para o mês, em que benefícios são atrasados por empresas e prefeituras, em que a estabilidade se tornou frágil, qualquer emprego é louvado com graça, milagre é conseguir um trabalho, luxo é comprar requeijão, peito de peru nunca mais, felicidade é ter mistura toda semana, em que acríticos e puxa-sacos valem mais que competentes, em que experientes são preteridos a vagas e inexperientes não têm chance de ganharem experiência, em que decote é coisa de puta, manuais ditam comportamentos e aparência, gay aceitável é o que não dá pinta, em que a capacidade de se surpreender vem perdendo lugar para a apatia, tempos em que não se vê mais aquele que está ao seu lado, mas não se perde o que está sendo postado e curtido... sim, nesse tempo que passa alheio ao desperdício de tanta vida, ainda é possível, há espaço amplo e aberto para colorir de criatividade a dificuldade, para se alegrar com atitudes amorosas como deixar livros em bancos de metrô, roupas de frio a moradores de rua, sorriso e bom dia para quem vem em direção oposta na mesma e
estreita calçada, para conhecer Zygmunt Bauman e se aperceber no limiar no despenhadeiro intelectual, pesquisar e se descobrir trouxa ao ver como a manipulação do pensamento coletivo acontece há séculos com o uso do lado sombrio de quem aprendeu a psicanálise, há espaço para descobrir Darwin, Carl Sagan, Yogananda, acreditar na redenção do Darth Vader e se apaixonar pelo Qi Jon Gin, para brincar de entender Van Gogh, Miró, o novo desenho do seu filho, tentar aprender a dança do grupo coreano que a filha idolatra, perceber que a pessoa que limpa sua casa precisa de um abraço, que um abraço pode ser uma despedida inesperada, para dizer eu te amo olhando no olho, para acalorar uma discussão tête-à-tête e acabar com um brinde à divergência, é tempo para ver a marcha das mulheres mais populosa que a posse de Trump, de limpar gavetas da memória, tentar um novo esporte e engavetar remédios para dormir, para estar presente sem olhar no relógio, abençoar o passado e não se obrigar a passar panos de prato, a ser feliz gourmetizando legumes e verduras da horta do bairro, aprendendo receitas novas e aceitando pequenos ajudantes na função, tempo de acreditar que o emprego vem, que o talento prevalece, que a timidez pode ser aliada, que a solidão também é amiga, que amigo bom é aquele que sente e se importa, tempo de apreciar a leveza do perdão, trocar o amargor pelo refresco de beber com o irmão, de suar e sorrir, crer e rezar, praticar o certo sem pestanejar, o bem sem se gabar, o equilíbrio após muito se esforçar, acreditar em si e literalmente abrir mão – do celular, do comodismo, do ego e de esperar – para pegar outra, beijar e andar junto, sem pensar em errar ou acertar.


https://www.youtube.com/watch?v=qiKMmrG1ZKU

18 janeiro, 2017

Somos poeira de estrelas, neste Pálido Ponto Azul


Depois de ler o texto, quase um manifesto, de Carl Sagan chamado Pálido Ponto Azul, essa página em branco parece, a mim, um desafio além da conta. Melhor seria copiar e colar aqui suas palavras, tamanha importância há em sua reflexão – desprovida de qualquer sentido imaginativo, ficcional ou místico, mas lotada de consciência, clareza e constatações filosóficas que, 20 anos depois, permanecem tão atuais. Cientista, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor, Carl Sagan nos fala sobre nosso lugar no Universo.
Inspirado pela imagem da Terra, feita pela nave Voyager, em 1990, a seu pedido, ao convencer a Nasa da importância desses registros, Sagan chamou de ‘pálido ponto azul’ aquele elemento quase invisível na vastidão do Cosmos. Diz ele, lá pelo meio do texto: As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta autoimportância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.

Seu alto grau de consciência me parece, hoje, inversamente proporcional à falta dela.

Mas por que falar em Carl Sagan agora? Uma notícia me levou a ele nos últimos dias. Não vi qualquer repercussão a respeito, mas, uma de suas mais conhecidas frases – que ajudou a identificá-lo também – “somos todos poeira de estrelas”, ganhou aderência da
comunidade científica. Após pesquisa, astrônomos divulgaram que possuímos os mesmos elementos que constituem as estrelas. O carbono, o nitrogênio e os átomos de oxigênio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, surgiram em gerações anteriores de estrelas, há mais 4,5 bilhões de anos. Os seres humanos, portanto, e todos os outros animais, bem como a maior parte da matéria na Terra, são feitos, literalmente, de matéria estelar. Estamos todos conectados, uns com os outros, e todos com o Cosmos.

Temos a mesma origem. E iremos – voltaremos – todos, para o mesmo pó de onde viemos.

Sagan, por já ter esta clareza muito tempo atrás, dizia que nós, seres humanos, somos uma maneira de o Cosmos se autoconhecer. “Se somos feitos de poeira de estrelas sistematicamente organizada para formar seres dotados de consciência, então podemos dizer que somos o universo pensando sobre si próprio”. E da grandeza desse reconhecimento brilha uma humildade soberana. A consciência da continuidade. A presença dos nossos ancestrais em cada átomo que nos mantêm respirando. O desejo de amar nossa linhagem e perpetuar, nessa espiral de presença, a perseverança do amor e do perdão. A nossa responsabilidade para com o Todo do qual fazemos parte.

A evolução que está nas nossas mãos, a partir do respeito a todos e à nossa Natureza.

Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.

04 janeiro, 2017

Fin(a)da mágoa



E como fazer para lidar, então, com a mágoa, o ressentimento, que passaram tempos trancafiados na masmorra das lembranças ruins? Sempre assim... Sentimentos que não nos trazem boas emoções ficam escondidos, por mais que deles tenhamos consciência. E quando, sem serem chamados, vêm à tona por um motivo qualquer – uma pessoa que encontramos, uma conversa como que sem assunto –, nós procuramos em vão por aquele equilíbrio pelo qual nos gabamos tantas vezes, por aquela calma com a qual muitos nos definiram, pelo mantra, frase, mudra, a borda escorregadia da piscina funda. Mas sequer as palavras saem no tom usual, e o que falar do corpo, que sacoleja, e anda como quem quer fugir, e treme em pleno verão de 35 graus na moleira? A emoção nos vence tão facilmente que nos deixa com raiva de nós mesmos. E da raiva vem o choro, escondido sob o capacete, que acaba com o restinho de estabilidade emocional, e nos faz lembrar fraquezas, pontos fracos, vulnerabilidades... Só falta abrir as grades onde repousavam esquecidas frustrações e rejeições. Ah não, dias de tpm? Haja, haja respiração e inspiração, chocolate ou cerveja, banho frio e um treino de pontapés. Mas passa. Benzadeus, passa. Só que há de convir.... Se causou tanto estardalhaço no interior do ser, é sinal. Dos importantes. Melhor chorar mais e mais, e respirar e inspirar, e no final de alguns goles, ou de uma boa conversa (melhor seria após uma iluminada meditação) se dar conta de que nada existe para ficar trancafiado, nem as emoções ruins. Libertas, que elas finalmente vão embora na poeira do tempo, e cremadas se encerrem na paz da dor de cabeça quando acaba.


sem lama, não há lótus.

Tempos verbais



Em tanto tempo poderia ter sido versada nossa história
Mas é o futuro do pretérito que teima em conjugar
Tantos verbos de possibilidades que ficaram pelo caminho
Nesta vida em que a trave protagoniza o afetivo-amoroso destino
Desatino aspecto da existência sola, solitário espírito
Poderia, seria, existiria, viveria... teria dado certo
‘Se’ alguém tivesse feito, dito, amenizado, compreendido,
Ajudado, participado, optado
Acalmado, respirado, convencido
Querido, insistido, acreditado
Mas, dependentes desse infame, minúsculo “se”
Os verbos agonizaram, sucumbiram, maldisseram
Buscaram no passado o presente perfeito
Quando os tempos já haviam mudado
E o futuro, esquecido entre pronomes

Não há mea culpas, meandros, sortidos arrependimentos
São os fatos somente, teimosos porque imaturos
Malconservados porque distantes se tornaram
E fizeram dos sentimentos, adormecidos,
Como se nada mais os permitissem encontrar um novo tempo
(nem a década que passou achou conjugação que desse jeito)

Mas, porque verdadeiros, resistiram
E num ímpeto destino por Deus subjugado,
A chance do presente ser indicativo se fez
E num breve momento cotidiano vi sua tez
Marcada pelo tempo, e ainda assim a mesma
Que amei, intensamente, e insisti na nossa cena

O breve cotidiano aproximou o passado do presente
E o momento se refez.
Mas foi apenas para me lembrar do amor que tive
Merecedor da eternidade dos tempos
E agora jaz silencioso
No pretérito mais que perfeito

(para Eduardo, 23/10/2016)

Poesia do mar

Da saudade que tenho, da lembrança que guardo
À certeza de pertencer a este chão fresco e molhado
Do respeito que sinto, da vontade que calo
Ao desejo de apenas ser parte desse cenário
Da força do vento, do fluir de suas águas
Às almas que trata e cura, e traz à tona essência pura
Do alimento que traz, da companhia que faz
Às lágrimas que dilui, aos sonhos que conduz
Peço que não me esqueças, e aguarde, siga, proteja
E a distância me alcance; me faça viva, até que em você eu esteja.

Mais amar, só pra (re)começar


Existe uma liberdade na folha em branco, especialmente quando nela consta a aventura do ineditismo. A responsabilidade de colorir com palavras o espaço compartilhado – e dessa vez com uma gama grande e desconhecida de leitores – não deve ser um peso ou uma angústia, mas uma oportunidade de proporcionar um momento, digamos, mais leve e reflexivo no cotidiano. Há tanta gente (discernimento, ativar!) falando de política, analisando a economia, supondo explicações diversas sobre fatos midiáticos, conjecturando sobre Temer, Trump, teles que eu, aqui, quero mais é falar de amor. Oi? Sim! O amor que desejou a quem estava ao seu lado na virada do ano, que ganhou ao menos uma das sete ondas puladas, das nove uvas devoradas, das 13 sementinhas de romã que foram para a carteira ou simplesmente aquele que não deixa de ser rogado nas preces noturnas, silenciosas e solitárias, em qualquer tempo ou cenário que se faça.
Os contornos do amor – esse desejo intrínseco ao ser humano, motivo primeiro de tantas alegrias e razão de tristezas profundas – de tão imprecisos que são, sutis e intensos ao mesmo tempo, seguros e ainda assim exigentes de cuidados e retoques, dão um nó em muita gente. Dar e receber amor, em qualquer tipo de relação (a dois, de pai/mãe e filhos, entre amigos etc.), deve parecer, para talvez um ET que nos observe, algo simples. Mas são tantas as tentativas, travas, frustrações, perdões e novas decepções, términos sem fim, recomeços, desconfianças e espera, que ele mais parece residir em outra galáxia. Mas não. É um engano. Ele está nosso DNA – e é capaz de ser mais forte do que todos os entraves criados.
Ainda que se pense em uma mãe que não demonstra incondicional amor por um filho como reza a regra; ou em um filho que não coloca os pais velhos entre suas prioridades; um casamento no qual o desejo apaga e a amizade não resiste às quatro paredes; um pai que não visita mais seu pequeno, que cresce esperando; uma amizade enfraquecida por um mal-entendido. Ainda aí o amor existe. Torto, teimoso, abafado por egos e fraquezas, mas existe. Em muitos casos, exige um trabalho de superação digno de super-herói acreditar no amor que transforma mágoa em aceitação e compreensão, e ainda mantê-lo disponível para quando solicitado, mesmo que com outras vestes, mais conscientes (sim, trata-se de perdão). Em outros, mais enrijecidos, somente a compaixão salvaria que sentimentos negativos tomassem conta – afinal, cada um tem seu tempo de se aperceber que o amor verdadeiro não morre (pena que muitos morram antes disso), e que sempre há tempo para resignação.
A afetividade, formada por emoções e sentimentos, precisa porque merece (e vice-versa) de ainda mais atenção nos dias de hoje. Nesses tempos em que o ser humano teima vergonhosamente em regredir (contrariando a natureza evolutiva na qual eu, pelo menos, sempre acreditei), em que o egoísmo cresce tanto quanto a indiferença e o ódio, em que se mata um ser humano a pontapés, lotado de ignorância, e o fascismo observa à espreita, alimentando-se de preconceitos e radicalismos, a afetividade deve ser trabalhada – em casa e nas escolas (algumas começam a pôr em seus currículos as “habilidades do século 21”, que incluem o domínio interpessoal, a fim de desenvolver nos jovens a capacidade de lidar com as emoções, valorizando, por exemplo, a adaptação, a empatia, o autocontrole). Porque se não for o amor a nos unir e salvar, o que mais então?
Olhar o outro como igual seria um sinal de evolução; a criação espontânea de conexões afetivas, uma bênção. Nos resta, ao menos para sairmos desta etapa selvagem da existência, maior esforço e disposição para o exercício do reconhecimento das nossas emoções e sentimentos.
Que todo o “amor e paz” que desejou a quem estava ao seu lado na virada do ano cresça, antes, em você – ainda que esteja dilacerado com uma separação, com saudade do filho, revoltado com uma traição, brigado com o genro, remoendo suas próprias culpas, fingindo estar feliz, bebendo para esquecer alguém, com dificuldades financeiras (quem não?), sozinho em seu apartamento. Deixe que o amor brote de dentro. Dê espaço para a resiliência, paciência, tolerância, bondade nas palavras, gentileza nas atitudes. A cada passo, semeie empatia, e siga seu caminho até onde for possível o amor lhe abrir as portas. Como uma folha em branco pronta para ser preenchida, permita-se, a cada dia, recomeçar a amar.

22 fevereiro, 2010

Que assim seja


Uma hora as coisas mudam, mais cedo ou mais tarde, esperando ou não, querendo ou resistindo... Simplesmente mudam. Uma hora a gente percebe que determinado caminho é, na verdade, uma espécie de estacionamento. Onde a gente, por um tempo, descansa, mas uma hora, como agora, se cansa. Não se trata de rejeitar o que passou, mas guardá-lo num lugar devido, muito especial, valioso para que se chegasse a esse momento. Não se pode renegar o que se viveu, todos deveriam saber, esquecer assim, como se não tivesse acontecido - ou, pior, tivesse sido ruim. Tudo, dizem, tem seus dois lados. Cabe a nós esse discernimento. E eu, como sei, sempre teimando em ver o lado bom até do lado ruim... O resultado é que eu mesma me engano... Isso não é novidade... Mas juro, estou aprendendo a ser mais "aguçada", para a preservação da minha espécie, que é a tua, que é o outro, e merece essa claridade. E se as coisas mudam é porque mais claras se tornam. As reais necessidades, o percurso da existência, a continuidade da evolução. O sentimento mais puro. Um resgate da essência. Que tudo o que ficou siga alimentando a história. E o que virá, seja bem-vindo.

"Vou imprimir novos rumos
Ao barco agitado que foi minha vida
Fiz minhas velas ao mar
Disse adeus sem chorar
E estou de partida
Todos os anos vividos
São portos perdidos que eu deixo pra trás
Quero viver diferente
Que a sorte da gente
É a gente que faz"

Novos rumos - Paulinho da Viola

08 fevereiro, 2010

do novo ao velho, do rock ao carnaval


Ontem, me dei conta de que não se deve boicotar a vida, nem por um segundo. Parece óbvio. É. Mas às vezes... acontece. E acontece também de o óbvio te dar um soco, de repente, na mais singela situação. Ninguém percebe, ou quase ninguém. Mas a ficha cai. Entre amigos novos, por exemplo, pessoas que já admiro, me peguei tímida, com uma máquina na bolsa e sem coragem de tirá-la para registrar momentos e imagens que eu não gostaria que esvaíssem da minha memória pouco confiável. Era aniversário de um deles, na verdade, a véspera do aniversário. E eu lhe dei um sincero parabéns pelo último dia em que ele teria 26 anos nessa vida. E, de repente, o soco. Ele nunca mais vai ter 26 anos. Nem eu um domingo como aquele. Assim como eu não sabia se teria outra chance de fotografá-los tocando, assim, entre amigos, sorrisos largos, irmandade, conexão visível e invisível. Assim como ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, logo mais, no futuro próximo ou longínquo. A vida é intensa, sempre, mas só se quisermos. Em todo e cada sentido. E os sentidos, dessa forma, ficam mais aguçados. O sentimentos, mais puros. Queria muito ter ficado lá... O rock me alimenta o espírito nesta cidade. E novos amigos me emocionam, ensinam, inspiram. Mas eu precisava seguir em frente para rever outros, estes de décadas, encerrar o domingo contando e filosofando os intensos acontecimentos recentes da vida, e ouvindo, recebendo, doando ouvidos, olhos... atenção. Pronto. Feito? Não... Quase em casa, o som dos tambores me sequestrou mais uma vez! Não, não eram os maracatus das ladeiras de Olinda, mas o samba da União da Vila!!! Aqui não é Pernambuco, mas é a minha casa. E sou grata por isso.





... que cada dia de seus 27 anos sejam intensos e verdadeiros. Parabéns pela vida (e amigos) que tem.

06 fevereiro, 2010

Um lugar de alguém



Uma energia forte, ode à vida, que esquece a morte e a sorte é a lida
Uma alegria nativa, abraço de olinda, que recebe a visita e transforma sua sina
Um encontro intenso, fusão de sentimento, regado a som e lampejo, êxtase e descobrimento
Um momento...
Seu brilho na pele lisa, olhar marejado em emoção, dragão fêmea na mão, coração de índio desarmado
Uma lótus expoente, poente sol à frente, cores e aromas na mente, e que parte de repente...
Com uma segunda pele presente
Saudade imensa assim, só o amor assina, e devolve ao universo, eternizado e à deriva

19 dezembro, 2009

Take it all away



You keep pushing me away
In spite of what you say
I found out yesterday
That I've been wasting all my time
Trying to make you smile
Trying to make this seem worth...
While you've been pushing me around
In spite of what I do
Trying to make things good for...

You take your economy car and your suitcase
Take your psycho little dogs
Take it all away

You've been racing through my mind
You're picking up in speed
You're driving recklessly
It's like a car crash happening on my street
Broken bodies at my feet
And sirens on the way

They're too late
'Cause nobody's going to save us
We're a rubbernecker's dream
We're burning gasoline

Go take your economy car and your suitcase
Take your psycho little dogs
Take it all away

And go

Go ahead and destroy this
Better come with an army
Are you feeling feeling okay baby?

Take your economy car and your suitcase
Take your psycho little dogs
Take it all away

(Cake - Pressure Thief)

03 dezembro, 2009

Janela de vidro (ou... I do care)


Do outro lado pressinto
Que não é mais pessimismo
Limpo a transparência
Desembaço a existência
Da janela a me guardar
Pois quero mais é enxergar
A imperfeição leviana
O egoísmo infecundo
O desprezo maltratar
Do lado de cá, dentro ou fora
Não cultivo indiferença.
Mas reconheço o que me eleva
Fecunda
Maltrata

A sina de ver cada coisa... de cima



Tati

02 dezembro, 2009

Perdão à morte


Um dia todos vamos morrer. Saber para onde vamos, sabemos. Ao pó voltaremos, depois de nos decomporem, aqueles organismos que existem para isso mesmo. E necessários eles são. Como todos, uns para os outros. Até nos parecerem, e parecermos, desnecessários. Uns para os outros. Com a morte, o corpo físico vai, pra onde já sabemos. Lentamente, e longe da nossa visão, desaparece. Um dia tudo acaba. Somos todos finitos. Finitos?
Porque não aceitamos a morte, não nos preparamos para ela enquanto vivemos. E quando ela resolve parar no nosso pensamento, é estranho... O que ficarão serão nossos frutos, o que produzimos, o que parimos, o que escrevemos e musicamos? E a nossa alma, a que nos faz arrepiar de repente sem vento, a que nos faz sonhar e vagar por onde não vemos, a que nos faz sentir com força que não é isso que queremos? A alma sabe antes... da morte? E depois dela, a imatéria perdura? Ela permanece individual, solitária e sem identidade, ou volta para a massa invisível, influenciando, influenciada...? Tem consciência a alma que se perde do próprio corpo?
A energia que carregamos em vida atrai e repele, sincroniza e tumultua, acalenta e desafia. Está contida nesses seres perfeitos que somos, máquina complexa, frágil, por vezes desrespeitada e na maioria ignorada frente à sua tamanha sabedoria nata. É quando perdemos tempo com o que não nos simpatiza ou serve. Um atrair ao contrário, algo que nos desestabiliza. Por algum motivo, pagamos para ver o que já sabemos não crer. Teimosia, que recai para a apatia, que desperta e conscientiza, quando nos deparamos com o quanto da vida perdemos. E antes que acordemos novamente para o tempo que nos resta, a morte nos visita – quer nos avisar algo: ‘você passou perto’. E arrepia, e sinaliza, e dá um tapa nas costas. Continuamos a não querer lhe dar bola, mas sabemos que sempre à espreita ela está. Que seja, então, boa amiga. E acredite que ainda não é chegada a minha hora.

01 dezembro, 2009

music is life


obrigada pelo blog Aenima que, com o post do Cake, fez minha vida melhorar. É divertido e perigoso viver. Mas ao som de Cake, tudo fica muito mais gostoso. Espero que me vejam aqui! Thank you, guys. I`m following you now.

30 novembro, 2009

clemency... me

i'm so confused that i cant explain
i'm so afraid that i couldnt see you again
three times and the same mistake
stupid version of a life that i complain
my fault is hard and now i'm here for compassion
one day i'll write another end, with passion
for now, i just pray, for forgiveness and pity
'cause my blessing live deserve another chance... sweety

27 novembro, 2009

Dedicado

a incompreensão incomoda
por isso há sede de entendimento
quem não está disposto ao envolvimento
é porque foge, enfraquece, acomoda

Tati
nov/09

25 novembro, 2008

Um sonho (remembering)

Sonho uma outra vida
Mesmo sendo esta não tão ruim
Satisfatória ao que se propõe
Uma família feliz e filhos
Avós, tios e sobrinhos
Macarrão e frango a passarinho
A sina de todo domingo
Passeio no parque, ronco à tarde
O show da vida vai começar
Mais uma semana para empurrar
Rotina sagrada que não me deixa respirar
O sonho de uma outra vida

Lá, do outro lado do mundo
Minha esperança é colorida
Não esperaria apenas bonança
Mas um coração de novo criança
Puro, pronto para descobrir a fundo
A intensidade de novo, um velho amor
No velho mundo, cinza e frio
Uma lareira me espera acesa
Vinho tinto à mesa
toalhas macias, jazz, uma banheira
um abraço a me envolver inteira
Me entrego sem medo de ser verdadeira

E daí em diante o que importa
A vida não voltaria ao faz de conta
Não se sustentaria no cotidiano circular
Mergulharia num redemoinho a imaginar
Que todo o sonho não pode ser em vão
É forte demais para apenas uma ilusão
Há muita vida pedindo a oportunidade
Uma chance para transbordar a felicidade
Engasgada, contida, conformada
Pelo menos por um dia
Já teria valido a pena a vida
E nada mais seria como antes



(julho/2005)

Clemência

Espíritos que semeiam
Força e paciência
Propaguem a clemência
Dos orgulhosos e inconvenientes
Dos pilantras inconsequentes
Dos filhos e dos parentes
Do amor distante e latente
Da saudade que mata a gente
Dos honestos benevolentes
Dos instintos envolventes
Da esperança insistente
De novos tempos e sementes
Que sem notar se calem
E escutem dos sonhos
Os recados, suas verdades
Que sofram sem se afogar
Que esperem mas saibam andar
Que decidam, sem medo de arriscar
Que se entreguem podendo mergulhar
Que não respondam a perguntas que só fazem machucar
Que vivam sem se culpar
E estejam dispostos a enfrentar
O inconfessável medo de amar

(2007, hoje e sempre)

Bater asas

Estar com o pensamento em elevação constante
Sem que transpareça uma arrogância
Saber ser tudo menor
Do que o amor e a vida em harmonia
O sorriso da sua filha,
Uma vida refletida na sua
Não há olhares estranhos que façam isso mudar
Não há desejos mesquinhos que não sejam rebatidos
Com solidária frieza que até mesmo os anjos
Necessitam para voar

(2007)
Saber o que se quer é o princípio para não imaginar onde se pode parar
(2007)

Espelhar

No espelho do céu
Voa o meu coração
Sempre a observar
O que não se vê do chão
Tão livre
Que se crê
De repente
Que a realidade está aprisionada ao universo todo
Tolo...
A realidade em que se pisa
É o reflexo da ilusão em que se crê
Tão distante
E próxima no reflexo do espelho
A ilusão
É pura realidade
E a liberdade
É simplesmente um estado

Feeling sad

Espero, sem saber o que esperar
Desejo, sem ter que desejar
Invento, tudo o que me faz sonhar

E esqueço,

Pois não já quero rimar


Parece que estou sempre pronta
Mas prefiro a solidão da ilusão

15 outubro, 2007

Brinde parisiense

Agora, que me lembro e dou conta
Não posso ficar mais quieta do que sou
Não mais do que já fui
Nem menos do que espero
Quero confessar que aquela lágrima
Sorrateira e solitária,
Eu mal sabia, mas ainda existia,
Como último suspiro de uma lembrança
Triste, dolorida, mas que persistia
Corroía como quem machuca devagar, sem avisar
E entre mãos e copos, salames e mafiosos
Foi aniquilada, elegante como Corleonne
Sem remorso ou saudade
Implacável como um gesto de carinho
Impagável como o alívio reconfortante
Viagem sem volta, a primeira de uma série
De extermínio a assassinos
Que quando morrem nos libertam
De pensamentos, recordações,
Sensações sem velório ou utilidade
Exemplos para o que prende e limita
- dela jurados
Você presenciou tal morte
Sem direito a último suspiro, é verdade
Mas com a vontade de ser comemorada
Com mais um brinde à sua má sorte


Tati

Palavrar em vão

Lançam mão de meu sucesso
Reconhecimento nesta servidão
Valorização das horas-extras
Tempo recorde em série-produção
Estas palavras que de mim se apoderam
Que não querem minha promoção
Palavras que saltitam através de meus dedos
E insistem em fazer versos em vão
Quão insanas, inválidas, insossas
Prepotentes, sobrepõem-se à direita razão
Apontam, cutucam, esfregam
A cada momento, a fétida inspiração
- esta que me resume, entrega, ilumina o que trago dentro do peito
Como se fosse razoável ouvir o que diz o coração
Deixem-me trabalhar, palavras incontidas
Recolham-se à sua inexatidão
Aconcheguem-se no canto escuro que já conhecem
- mas respirem, mantenham-se vivas
Antes que eu ordene aos sonhos que as petrifiquem em ilusão


Tati

24 julho, 2007

Sinto-me só como um seixo de praia
Vivendo à busca no cristal das ondas,
Não sei se sou o que não sou. Pressinto
Que a maré vai morar no fundo d´alma.


Calo-me sempre se te escuto vindo
Marulho de incerteza e de agonia;
Há crenças deslizando nos teus traços,
Molhando a estátua do teu sonho antigo.

Declino-me nas frases dos rochedos
Nas pérolas de som do inesquecer
Na incrível sombra da montanha adulta.

E ao me curvar ao peso da memória,
Descubro meu reflexo obscuro
Num soneto de espumas inexatas.


Vinícius de Moraes

02 julho, 2007

dentro da cápsula de prata

Preciso que me digam, que me digam com urgência, o que essas mentes pensam, o que têm em sua consciência? O que os espelhos lhes detonam a cada manhã, vendo escorrer felizes ramelas invisíveis sanguinolentas? O que concluem esses mesmos espelhos – amigos passivos, contidos, contrários – quando a lua brota cansada e os ombros refletidos quedam pensamentos, confabulações, especulações? Qual é o tempo de sua vida, o preço de sua calma, o valor de seu silêncio, a cor de sua alma? Preciosos seriam, mas inexistem aquém do umbigo, travados pescoços pesados que não colocam à prova a panorâmica existência. Preciso que me digam, para que eu permaneça distante de seus pensamentos, indiferente ao foco de suas tramóias: o que há em suas mentes? Há um coração, mesmo que doente ou inconsciente? Mas... de que isso tudo me vale?
passados meses, meses passados, cá estou. A qualquer momento, um desassossego qualquer. Passado ou presente. Banal ou nem tanto. Nuclearmente só, atomicamente integrada. Sempre em desassossego. Nunca em desarmonia. Sentido é para quem quiser encontrar.

29 janeiro, 2007

diálogo


o silêncio
o coração
a mente
a cidade
a verdade
a garganta
o tempo
paira, agoniza, fervilha, cala, embaça, seca, pára.
quando não se pode dizer mais nada

26 janeiro, 2007

até quando?

um buraco, onde nele cave com chave e guarde o sagrado do meu coração
a cada tropeço e lá estou, nele
cavando mais fundo
novamente e sempre
na essência do sagrado
no buraco do meu coração

15 janeiro, 2007

sem estribeiras

o vento que entra pelas narinas
carregado de perplexidade
arroja, recria
transpassa as leis do efêmero
se perpetua no despenhadeiro
clama e alcança consciência
consciente de sua transparência

desequilibra
grita
renuncia


vento,
faz a curva
se despenteia
transcende por dentro
transgride por fora
a volta, a ida, o vão
o percurso que não é destino
acalenta em desatino
a vida que se faz ouvida

falada
sofrida
sem medo

vento,
páre ao relento
o orvalho esfria tua pressa
e você agora sabe como é bom
parar o tempo
sem vento
nem chão
parede o que,
que mude a visão

o vento que agora sai pelas narinas
não segue a regra distinta
dos terninhos e bocas vermelhas
dos bom dias de mãos obsoletas
desconhece crachás da existência
segue seu rumo apenas

05 janeiro, 2007

.co.uk


Perco o rumo, o prumo, o tempo quando páro e penso, e logo dispenso o pensamento que me leva além do horizonte, tão longe, sem fonte, com pouca sorte e morde, mesmo assim, meu pensamento. Brinca de esconde, assusta, atiça, até sonha babando na fronha, mas não inventa, se emenda, se toca e acorda pois há mais que um oceano a separar os continentes. Serpentes que se enroscam, envenenam-se e repelem o próprio espelho. Vermelho. O sinal não abre e a oportunidade passa a pé. Vira a esquina para nunca mais. Tanto faz, induzo o pensar. A pedra que lanço do forte ao mar é o amor que poderia ter sido e não será. Ainda não sei se morreu pois não afundou. É muito leve. Flutua. Sensível e persistente. Ausente e solitária. Pedra segue e nem sabe que sofre em vão. Tão à deriva quanto meu pensamento. Sem rumo, nem prumo (...). Afundo, finalmente.

02 janeiro, 2007

Ano novo



Não percamos tempo.
Recreemos o ócio.
Relativizemos obrigações.
Admiremos moinhos de vento
Saciemos desejos sãos
Recriemos sonhos vãos
Viajemos por dentro
Exploremos o mundo
Inconformemos
Quanto menos sorrimos amarelo
Mais amaremos serenos
Entendamos sentimentos
Sentimos de verdade
E não esqueçamos...
Nunca estamos sozinhos
Incondicionalmente
Saibamos ser grãos, gotas, estrelas
E mutemos.

25 novembro, 2006

enquanto isso, de madrugada...


Surpresas são presentes quando bem-vindas, verdadeiras obras de arte quando bem acabadas, pinturas coloridas dentro dos sonhos, gravuras de sensações prensadas na memória...

24 novembro, 2006

quem



um quer
outro não
um imagina
outro vão

alguém explica
ninguém sabe
alguém decifra
ninguém age

qualquer inspira
nenhum adormece
qualquer suspira
nenhum concede

quem

senão ninguém
sabe, imagina
decifra, age
explica ou não
suspira em vão

concede
a inspiração

inspira
a concessão

um outro
qualquer

nenhum
alguém

quem?


tati

22 novembro, 2006



Preciso de espaço
Um vago espaço no tempo
Onde eu possa ver meus pés no chão
Descalços sobre a grama
Em solitários passos
E fincá-los na realidade
Sobre o piso branco, frio
Saber que o sonho pousa
Onde as palavras transbordam
O resto é realidade
Desejando a areia fina, solta
Uma nesga do espaço sideral
Quer seja real
Ou surreal
Mas me carreguem para onde inda vou
E me avisem que está na hora de acordar

Tati

21 novembro, 2006

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes

20 novembro, 2006

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

16 novembro, 2006

verdade

Antes de mais nada
Preciso deixar claro
Para quem quer que seja
Que sentimento é sagrado
E está guardado
Apesar do tempo e dos oceanos
No coração aquietado
Digo que é preciso confiar
Ainda que demore
Pois de maduro pode apodrecer
Ou inda mais saboroso ser
Digo que sou humana
Sobre isso fico quieta
Apenas sublinho
Que sentimento é sagrado
Mas a verdade é mais
Melhor dizer o que é
Do que fingir o que não foi
Se humana fui, fraca ou fosca
Reluzi o momento
Deslizei no caminho
Apaguei no final

12 novembro, 2006

quiçá

se a vida esconde
aonde
se há onde vida
longe
se de longe escondo
conte
se se esconde a vida
fonte
se de mim você
esconde
se em você penso
responde
se por nós o tempo
remonte
que tua vida enfim
me encontre

09 novembro, 2006

aparecida

como é bom viver assim
sem a menor aventura
sem nó atado à garganta
nem a desventurada espera
por uma notícia na berlinda
ela finalmente apareceu
podemos respirar até o fim
o que fica dessa experiência
é a fragilidade, minha, nossa, dela
quão despreparados somos nós
crianças com medo de cabra cega
fracos, importentes, entregues
onde está a força que dizemos ter?
a luz, calma, serenidade
sempre desejados com irritante segurança?
somos frágeis feito um gatinho nascendo
inocentes assombrados pela culpa
o orvalho que a manhã esquenta
ninguém guarda a não ser a chuva
uma lâmpada que de repente queima
é maldita e, trocada, esquecida
nós, por instinto, lutamos
pela vida - e contra ela existe muito
sejamos fortes, pelo menos uma vez
e que não haja uma próxima vez

Fran

O sorriso largo é a lembrança que fica suspensa quando se prende o ar. Como queria não soltá-lo para não perder essa imagem. A esperança nos olhos pequenos, aflitos, brilhantes, sempre dispostos, atentos, aqui e lá, no chão e nas estrelas, sonhando. A doçura da guerreira impulsionada pelo puro instinto de viver. Viver de verdade a aventura da vida. Quem se lança ao desconhecido reconhece um espírito jovem pela essência, sua leveza. Força, ela me disse numa manhã cinzenta. Eu vou ficar bem, respondi com gratidão. Sinceridade singela. Pulsante vibração. Sensibilidade rara. Ausência que agora, curada, me faz temer. De mãos atadas, digo-me para não desistir. Enquanto a mente procura lembranças, pistas, prosas, o sorriso largo vem... Força, eu lhe peço em pensamento. E a esperança resiste, sem dormir.

07 novembro, 2006

A vida às vezes cansa a gente.
Aperta o peito diferente
Sufoca
Não repousa feito na terra a semente
Abafa.
Não respira feito planta crescente
Resseca.
Ressaca.
Ressente.
Não brilha como cristal raro pendente
Ofusca.
A vida é tão somente
Muitas vezes
Uma porção de gente ausente
É a gente, sozinho, somente
Desejando um beijo ardente
Um café com leite quente
Um alfinete
Um suspiro
Um lembrete
De repente, é um banquete
De tarefas em mente
E tudo volta a ser,
Simplemente
Presente.

06 novembro, 2006

"(...)pensar, agir, transcender. Usar elementos que não estão ao alcance do nosso olhar ou das mãos. Palpitam no coração ou em qualquer outro orgão mais suscetível a percepções. Mãos, talvez ouvidos. Olhos da alma, quem sabe. Que a força criadora pulsante no plano sutil seja abençoada de bons pensamentos e presságios, sorrisos nos rostos de cada um que está disposto a ver além. Além do que podemos parecer. E podemos."